Cecílio Flor
Quando eu era menino, havia o Cecílio Flor.
Toda a cidade, ruas e casas, gentes e coisas,
e as ervas esquecidas das valetas, exalavam perfume,
quando lá vinha o Cecílio Flor.
Era grande, era enorme para os meus olhos de menino,
e eu ficava-me parado e pasmado quando ele atravessava
a Praça dos Arcos, numa nuvem de música, e os lojistas,
senhores do balcão, saíam e ficavam parados às portas,
porque lá vinha o Cecílio Flor a tocar ocarina.
Tinha um som de prata, de flauta e de búzio, a ocarina do
Cecílio Flor, e a Praça dos Arcos ficava cheia daquele som,
agudo e redondo, quando ele lá vinha, cego e descalço,
numa nuvem de música.
Ele não era realmente Cecílio Flor. Era só Cecílio,
mas eu acrescento-lhe a flor,
para dar nome àquele som fresco e aveludado.
O rapazito seguia-o e provocava-o, porque ele era cego,
e o Cecílio Flor, tão grande e tão forte,
chorava num choro rouco e muito fundo,
e tão pisado como uma flor amachucada.
No outro dia, lá vinha o Cecílio Flor,
e as músicas e os sons longos, finos e graves,
soltavam as asas, enquanto ele, cego e descalço,
atravessava a Praça dos Arcos a tocar ocarina.
Miguel Franco
Visitem o blog do grande poeta e escritor que era o meu avô
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Friday, December 21, 2007
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